Jamelão pode combater câncer
Informações da notícia
O mesmo pigmento que dá ao jamelão (também conhecido como "jambolão") o inconveniente de manchar as mãos, os tecidos das roupas, os calçamentos das ruas e a pintura dos carros apresenta um potencial para destruir células cancerígenas. É o que mostra uma pesquisa realizada em laboratório pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O estudo constatou que o extrato da fruta que contém antocianinas, substâncias presentes na pigmentação, levou à morte uma média de 90% das células leucêmicas. Os testes foram realizados ainda em células sadias, das quais 20% morreram.
O que os pesquisadores querem descobrir agora é se a morte foi causada pela substância na sua forma original ou em razão de um produto metabólico. "Ainda há um longo caminho a ser percorrido e muitos estudos a serem feitos. No entanto, estamos empolgados com o resultado", declarou a pesquisadora Daniella Dias Palombino de Campos. "Utilizamos dierentes concentrações do extrato e chegamos a um ponto ideal. Mas outros estudos são necessários para esclarecer os mecanismos envolvidos", completou Daniella.
De acordo com a professora Adriana Vitorini Rossi, do Instituto de Química (IQ) e orientadora da pesquisa, o jamelão apresenta uma característica própria em relação a frutas como jabuticaba, amora e uva, que também possuem antocianinas. "Antocianina é uma classe de moléculas diversificadas, mas com esqueleto comum. Geralmente as frutas apresentam, em média, oito tipos de antocianinas. Já o jamelão apresenta apenas três. Quanto menor o número de moléculas, mais fácil fica o estudo", explicou a professora do IQ. Os ensaios biológicos contaram com a colaboração da professora Carmem Veríssima Ferreira, do Laboratório de Bioquímica, e de Hiroshi Aoyama, do Instituto de Biologia.
Desde 1998, as frutas que contêm antocianinas são estudadas pelo grupo de Adriana. Desde então, surgiram muitos resultados, que renderam inclusive uma maior aproximação co a indústria por meio de convênio. No momento, as pesquisas do grupo concentram-se em desenvolver e caracterizar extratos para aplicação industrial.
Outras propriedades:
Pesquisa realizada no Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fiocruz revelou que o chá da folha do jamelão não só combate à inflamação como também tem ação antialérgica, com propriedades semelhantes às da dexametasona, corticóide comum no uso contra casos de alergias.
Além do jamelão, foram estudadas quatro espécies da família Myrtacea: Eugenia aquea (um tipo de jambo), E. involucatra (cereja-do-Rio-Grande), E. brasiliensis (grumixama) e E. sulcata (tipo de pitanga).
Resultados em cobaias:
Os pesquisadores injetaram na pata de camundongos uma substância química que induz a um processo de inflamação, provocando um inchaço no local. Em quatro horas, o extrato aquoso da folha de cada uma das cinco plantas analisadas se mostrou capaz de reduzir o inchaço em cerca de 50%, de acordo com a Fiocruz.
Em outro experimento, as patas das cobaias receberam uma substância indutora de um quadro que simula uma reação alérgica, o que também gerou um inchaço. Neste ensaio, a administração oral dos extratos não surtiu efeito benéfico significativo, exceto no caso do jamelão, cujo chá, depois de meia hora, permitiu uma redução de cerca de 80% do inchaço.
Para confirmar esse achado sobre a ação antialérgica do jamelão, foram feitos outros testes, desta vez com camundongos alérgicos à albumina (tipo de proteína encontrada no ovo, por exemplo). Esses animais receberam injeções de albumina na pata e na cavidade torácica. O uso oral do extrato aquoso de jamelão novamente garantiu, em meia hora, cerca de 80% de redução do inchaço na pata.
O jamelão faz parte da família Myrtacea, que é formada por árvores frutíferas que têm usos variados na medicina popular e são de grande interesse para os químicos, já que suas folhas produzem óleos essenciais.
Saiba Mais:
Nome popular: jamelão, jambolão, jambeiro e azeitona
Nome centífico: Eugenia jambolana
Família botânica: Myrtaceae
Origem: Índia
Características da planta: Árvore de até 10 metros de altura. Copa ampla e muito ramificada. Folhas lisas e brilhantes. Flores creme ou brancas, com pétalas arredondadas, em forma de capuz.
Fruto: forma ovóide, pequeno, de coloração roxo-avermelhada a quase negra, quando maduro. Polpa carnosa que envolve uma semente.
Cultivo: multiplica-se por sementes, desenvolve-se bem em qualquer tipo de solo, porém permeáveis e profundos. Prefere climas quentes e úmidos, principalmente de regiões litorâneas. Frutifica de janeiro a maio.
Fonte: Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro