Dietas energéticas - Dieta de campeão olímpico
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Que apetite! O nadador Michael Phelps é um devorador de medalhas. De onde vem tanta energia? O Globo Repórter foi saber o que um campeão precisa comer. No Ambulatório de Medicina Esportiva do Hospital das Clínicas de São Paulo, conhecemos Guilherme Campello e Bruce Hanson Almeida: dois meninos de 10 anos com fome de vitória. Um precisa ganhar altura e o outro, perder peso. Pediatra e nutricionista entram em ação.
Verdade ou mentira? Insaciável dentro e fora da piscina. A dieta energética de Michael Phelps bate recorde de excessos. São 12.000 calorias por dia; 9.500 a mais do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda.
Só no café da manhã, são duas xícaras de café; três sanduíches de ovos fritos, queijo, alface, tomate, cebola frita e maionese; um omelete com cinco ovos; uma tigela de cereais; três torradas de pão frito com ovo e açúcar, uma espécie de rabanada; e três panquecas de chocolate.
No almoço, um pacote de macarrão; dois sanduíches de pão branco, presunto, queijo e maionese; e, para acompanhar, bebidas energéticas, que somam 1.000 calorias.
Tem ainda o jantar peso-pesado: mais um pacote de macarrão e uma pizza inteira, também acompanhados de mil calorias de bebidas energéticas.
"Todo mundo está querendo seguir a dieta do Phelps para ter o desempenho dele. Não é uma dieta convencional. Acho até que o gasto de 12 mil calorias para um atleta do nível dele não é espantoso. Mas a distribuição dos nutrientes, a variedade da dieta é muito ruim. Então, não é uma dieta que pode ser aplicada a nenhum outro tipo de atleta”, adverte a nutricionista Suzana Bonumá, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "As pessoas que não praticam exercícios não conseguiriam comer tanto quanto ele, teriam uma indigestão muito grande, ficariam sonolentas o dia inteiro, porque a gordura fica muito tempo no estômago e, assim, retarda bastante a digestão", explica.
E, subindo na balança, lá vai Bruce.
"Está com 39 quilos. Muito bom! Ele perdeu 1,5 quilo e cresceu mais de três centímetros", avalia Suzana Bonumá.
Quantas mudanças na cozinha de Miriam Almeida, mãe de Bruce.
"O prato é bem colorido. Ele está aprendendo a comer agora. Antes, não comia verdura, salada, cenoura, beterraba", conta dona Miriam.
"Antigamente, eu pedia farofa, ovo, bife, lingüiça, salsicha. Nada de verdura e legume", lembra Bruce.
"Acho que se ele não fosse um atleta talvez nem percebêssemos, como muitos pais não percebem que o filho está engordando", diz dona Miriam.
E no caso de Guilherme, o que será que está acontecendo? A refeição é provavelmente a atividade mais exaustiva do dia para Guilherme e para a família dele. Pelo jeito, mais cansativa do que qualquer prova de natação. Fazer com que Guilherme coma tudo o que está no prato é quase uma maratona, que exige fôlego e paciência.
"É uma batalha diária. Todo mundo termina e ele continua. No horário do jantar, o sono chega antes. Ele já caiu de cara no prato dormindo. Um aliado fica do ladinho dele faz ele esvaziar o prato mais rápido do que deveria. A comida vai sendo desviada", conta Clélia Campello, mãe de Guilherme.
"Quando estou sem vontade de comer, ele me ajuda", conta Guilherme, sobre o cachorro de estimação da família.
Ajuda mesmo, a família de Guilherme foi buscar com a equipe do Hospital das Clínicas. Parece que a falta de apetite está atrapalhando o crescimento dele.
"Realmente ele está bem abaixo da média", constata a nutricionista. "Incluir alimentos mais energéticos principalmente antes, durante e depois do treino".
No lanche, bolo. Mas o técnico Fernando Possenti já levou Guilherme a vitórias na mesa, como convencer o garoto a comer brócolis.
"Comentei com ele que atleta tem que comer salada e comer brócolis, que é muito bom" diz o técnico.
"Minha batalha é na alimentação e na piscina", diz Guilherme, que garante comer brócolis bem. Se o médico falar para ele comer ainda mais coisas... "Vou tentar. Se não for possível...".
Força! Sobretudo força de vontade para resistir às tentações às vésperas de uma Olimpíada.
"Eu tentei dar uma maneirada, evitei refrigerante e chocolate", conta Maureen Maggi, medalha de ouro em Pequim.
"É uma reeducação alimentar. Essa é a diferença", pondera a ginasta Daiane dos Santos.
"Eu reeduquei minha alimentação. Eu como um pedaço de pizza, tudo aquilo que eu tenho vontade. Mas não como em quantidade e sim em qualidade", diz Natália Falavinha, bronze em Pequim.
"As atletas que comem muito pouco têm um problema mais sério porque durante o desenvolvimento elas já atingiram uma massa óssea mais baixa que deveriam. Elas ficam com metabolismo muito baixo, então, ficam ex-atletas com muita facilidade de engordar porque passam a ter um gasto energético muito reduzido, uma vez que o corpo passou por muito estresse durante a fase de treino, quando tinham uma demanda enorme e eram obrigadas a sobreviver com um custo muito baixo", explica Suzana Bonumá.
"O exercício intenso faz com que eles gastem muitas coisas. Então, ferro, proteína e carboidrato são consumidos. Por isso precisamos trabalhar junto com uma nutricionista, para ela fazer dar o aporte calórico ideal para essa criança não adoecer", diz a pediatra Ana Lúcia de Sá Pinto, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
"E caprichar em casa, quando você está assistindo o filho e pode educá-lo", completa a nutricionista.
"O acompanhamento médico vai adequar a alimentação ao que realmente está faltando", diz a ma~e de Guilherme.
Bruce já entendeu. Em dois meses de tratamento, ele a família mudaram bastante.
"Nós já temos tendência a engordar. Todo mundo está tentando comendo melhor e ele mais ainda", diz a mãe de Bruce.
O nadador do Corinthians chegou em segundo na competição. Medalha de prata para Bruce. Pelo visto, Guilherme também está a caminho do pódio.
Depois de praticamente limpar o prato, ele diz: "É porque vocês estão aqui e porque eu preciso comer mais. Já estou sentindo que é necessário melhorar minha alimentação".
Fonte: Globo Reporter